Sentado no bar…
À frente tenho um copo
Cheio de impressões
digitais
De pessoas sem palavras
nos dedos.
Refugiam-se, qual ermitas,
No recanto das
recordações.
Danço com eles canções
Que cantam vida ingerida.
Em mesas afastadas
Vislumbram-se esgares
Dos muitos sentidos
pêsames
Que a existência lhes foi
dando.
Tantos copos tresmalhados
Desvendando o mistério do
último trago.
Sentado no bar...
Ouço canções de
maldizer,
Felizes por me construírem
o caixão
E me bordarem a mortalha
Com pontos crucificados a
néon.
Um piano cujas teclas,
libertas,
Circulam entre os clientes.
Alternam notas
Que se recusam a ficarem
detidas
Soprando sons em
liberdade.
As mágoas, sim
Estão em cativeiro
E olham através dos olhos
de um Barman
Impotente ao momento da
vontade
Que tinha em aceder ao
pedido
De um cocktail de
rejeição.
Sentado no bar...
O som do piano entra-me no
copo
(Qual assassino com vitima
à vista
continua impune depois de
me envenenar)
Algemo-lhe as teclas
Embrenho-me no nevoeiro do
cigarro
E dou mais um trago.
O coração empresto-o ao
pianista
Para acelerar tudo o que a
música chora.
Escuto-o...
Numa suprema demência
As notas passam
Entre os poros e o
horizonte.
Semicerro as pálpebras
E olho em direcção à
porta
Que nunca me deixa chegar
À verdade da razão.
Levanto-me do bar…
E dou independência à
alma.
Saio…
Afasto com as mãos o som
do piano
Reparo que a minha cara
foge da loucura
E trémulo guardo os
restantes segredos
Que os muitos copos vazios
me contaram.
No fim tudo se dissipa num
chamamento:
-Táxi!
-É para?
(Como se chama a vida onde
vivo?)
JFV
21/02/2012
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